LE BLOG DO EMIR : "Debilita-se a ditadura dos monopólios midiáticos"

Publié le par RBBR

 

24/05/2007

Debilita-se a ditadura dos monopólios midiáticos

Frente às debilidades políticas e ideológicas da direita, os grandes monopólios da mídia mercantil assumem a função de diirigentes da direita latino-americana. Não é novidade para nós. Eles foram peças essenciais para preparar o clima do golpe militar de 1964 no Brasil, em que, com exceção do jornal Última Hora – fechado pela ditadura militar – toda a imprensa privada brasileira pregou a derrubada do governo democraticamente eleito pelo povo brasileiro, convocando as FFAA a instaurar a ditadura militar que vitimizou o povo brasileiro durante mais de duas décadas.

No período atual, os grandes grupos oligárquicos que dominam a imprensa do continente voltam a desempenhar esse papel. As várias eleições latino-americanas têm em comum uma totalitária frente opositora contra os candidatos a que se opõem essas oligarquias: Lula, Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Lopez Obrador enfrentaram esse mesmo bloco opositor. Provavelmente Kirchner enfrentará o mesmo problema.

Um bloco que constitui uma frente continental, solidária na defesa dos seus interesses corporativos, que se chocam frontalmente com a construção das democracias no continente. Porque nunca teremos democracias sem que exista um processo democrático de construção da opinião pública, que seja transparente, pluralista, público.

Um dos instrumentos da ditadura midiática privada é a apropriação monopolista do espectro radioelétrico, um bem limitado, de caráter público. Atualmente, 80% dos canais de televisão aberta e das emissoras de rádio na Venezuela pertencem ao setor privado, cujas opções políticas são amplamente minoritárias no país, conforme atestam as eleições, certificadas na sua lisura por todos os organismos internacionais presentes nas eleições presidenciais que relegeram a Hugo Chávez para a presidência do país.

Das 709 rádios, 706 pertencem a empresas privadas e três a entidades estatais. Dos 81 canais de televisão, 2 são estatais e 79 privados. Dos 118 jornais, dos quais 12 são de caráter nacional e 106 regionais, todos são privados.

Termina, no próximo domingo, o contrato de concessão de um dos principais representantes da oligarquia privada da mídia venezuelana – Radio Caracas Televisão - que participou ativamente no golpe militar – frustrado pela decidida ação popular – de abril de 2002, apoiado pelo governo dos EUA e por vários órgaos da mídia brasileira. Em reunião com o efêmero chefe do governo golpista, Carmona, os magnatas dos monopólios privados – entre eles Marcel Granier, proprietário de RCTV – disseram que podiam “garantir o apoio da midia”.

Um apoio que foi muito mais do que isso: a mídia privada foi o grande incitador do golpe, deu toda cobertura à derrubada do governo legitimamente eleito pelo povo venezuelano, deu ampla cobertura ao congraçamento dos golpistas no palácio presidencial e suspendeu qualquer cobertura, substituída por desenhos animados dos EUA, quando o povo entrou em cena e restituiu o poder ao presiente que havia democraticamente eleito.

Seguindo a mesma orientação de só informar o que lhes interessa e da maneira que lhes interessa, a imprensa brasileira anunciou uma suposta grande marcha da oposição para sábado passado, dia 19. A manifestação foi um fracasso. Os próprios orgáos de imprensa da oposição venezuelana, que a convocaram, que anteriormente falavam de centenas de milhares e até um milhão em manifestaçoes anteriores, desta vez teve que se limitar a falar de dezenas de milhares. Como foi um fracasso, a mídia brasileira não mencionou a manifestação, mesmo vários deles tendo correspondentes em Caracas.

O governo venezuelano não agiu imediatamente ao golpe fracassado de 2002. Esperou cinco anos, até que termine, no dia 27, o contrato de RCTV, para não renová-lo, substituindo-o por uma TV pública, que começa suas transmissões à zero hora do dia 29, com o nome TEVES (Você se vê, em castelhano) – Televisão Venezuelana Social.

Com isso, avança o pluralismo, se enfraquece a ditadura dos monopólios privados da comunicação. Ao contrário do que propagam as expressões nacionais desse oligopolio em cada um dos nossos países que, como sempre, principalmente quando afeta diretamente sua posição monopolista, reflete a realidade da cabeça para baixo.

Postado por Emir Sader às 12:06

16 Comentários

Riicardo Lemos diz:

25/05/2007

Engraçado que no Brasil vivemos a ilusão de uma imprensa livre.Fiquei assustado ao assistir a abertura do Jornal da Globo, na última quarta-feira, dia 23. Invasores ocupam a Hidreletrica de Tucuruí, professores estaduais, em São Paulo enfrentam a polícia. manfestantes fecham a Rodovia Fernão Dias, etc.
Eis a questão: qual a oportunidade que tiveram s invasores, os professores, os manifestantes de mostrarem para a sociedade as razões reais de suas atitudes?
Assim caminhamos na opinião exclusiva e única de grandes empresas que não permitem qualquer tentativa de mudança nesta estrutura social perversa, concentradora e injusta.

Paula Margarita Cares diz:

25/05/2007

para se ter uma noção do que foi o golpe de estado na Venezuela em 2002, recomendo que assistam o documentário "A revolução não será televisionada". Onde conseguir uma cópia: samuelpfa@yahoo.com.br
um abraço a todos!

Luis diz:

25/05/2007

É isso ai Chavez, rumo a democracia cubana com total liberdade de expressão. com jornais, rádios e tvs de todos os tipos, gostos e pensamentos diferentes.

Márcia Alves Nabarrete diz:

25/05/2007

Imagina se algo parecido fosse feito aqui? Ficaríamos sem Globo, sem novelões, sem Faustão sem programs idiotas, sem mentira... Eu ia sentir tanta falta do Boner e da senhora sua esposa...
Pena que o Lula não consiga ter o mesmo poder que Chávez e isso pq nossa mídia faz a cabeça diariamente do povo brasileiro para que, se um dia ele vier a pensar nisso, já achemos que é início de ditadura...

Gilberto Puntel diz:

25/05/2007

Emir, penso que seu trabalho é fundamental no processo de construção da crítica àquilo que é posto como verdade indiscutível pela direita a favor da direita e pelos benefícios da direita, do mercado, do lucro de alguns.
Os brasileiros merecem muitos canais de televisões diversificados, multifacetados, de múltiplas opiniões para fazer verter o pensamento de cada espaço de discussão em cada localidade deste imenso país continental.
Gostaria de ter um espaço de discussão de temas locais, mas as televisões nãos são nacionais ou melhor são sudesticionais.
No brasil temos uma centralização absurda da origem da comunicação.
Não temos televisões locais. A possibilidade de que isso ocorresse siriam as televisões comunitárias, as rádios comunitárias, dentre outras formas locais de comunicação.
A lacuna que temos a preencher, é a de nós brasileiros nos vernos pelos nossos próprios olhares, com o nosso próprio modo de ver a nossa realidade, para que nós possamos reler essas mesmas, nossas realidades, e modificá-las à medida que vamos relendo, revisando, re-construindo.

leila lima diz:

24/05/2007

Que inveja dos venezuelanos. Gostaria muito que o Lula tivesse essa coragem.

eduardo oliveira diz:

24/05/2007

Governos mudam. Quero ver o sr. Emir Sader defender TV's públicas quando um governo de direita estiver no poder na Venezuela (aqui no Brasil temos um governo de direito com o Lula).
Aí ele vai se manifestar contra a ditadura do governo e a favor da imprensa privada de esquerda.

david menezes diz:

24/05/2007

Muito bom! Pelo fim da manipulação da imprensa! Pela expansão da mídia alternativa! Pelo icentivo às rádios comunitárias!... Parabens, Chavez!

Jair de Souza diz:

24/05/2007

Outra vez na Venezuela! Será que o Chávez não aprende? De novo se metendo com quem não deve! Onde já se viu querer ir contra o direito natural dos cinco grupos econômicos que controlam quase 100% dos meios de comunicação de massas de lá? Estes grupos são a verdadeira essência da liberdade de expressão e, como não reconhecer, da própria democracia, já que democracia é, antes de tudo, o direito de propriedade. É devido a esses grandes grupos econômicos que os pobres e todas as parcelas humildes da população (a amplíssima maioria, diga-se) sempre pode se expressar livremente através de seus meios. Se há algum conflito entre trabalhadores e patrões, os trabalhadores, logicamente, terão toda a possibilidade de expressar seus pontos de vista através dos jornais, rádios e televisões controladas por estes grupos. Ninguém (a menos que seja insano mental) imaginaria que estes grupos poderiam beneficiar apenas os interesses das camadas privilegiadas da sociedade (à qual eles, acidentalmente, pertencem). Esses grupos nunca falsificariam fatos para ir contra um governo favorável ao povo; eles munca fariam uma montagem de um assassinato em massa cometido por mercenários da extrema direita para jogar a culpa na esquerda e nos partidários de um presidente popular. Eles nunca impulsariam um golpe de estado para colocar no poder o dirigente máximo do empresariado e, assim, acabar de vez com todas as instituições democraticamente eleitas; eles jamais se empenhariam para levar adiante um movimento conduzido pela alta cúpula da indústria petroleira com o objetivo de destruir a economia do país e, com isto, tentar justificar uma nova rebelião militar contra o governo. Nada disso. Este tipo de coisas nunca aconteceu por lá. Lá é como aqui. Vocês já imaginaram que a rede Globo pudesse defender interesses contrários aos interesses do povo trabalhador? Vocês poderiam conceber a idéia de que a rede Globo (e as outras redes de TVs do Brasil) fossem representantes das oligarquias e não da maioria de nosso povo? Claro que não, certo? Este tipo de idéias só podem ter os esquerdistas, que não entendem o maravilhoso papel que os grandes grupos econômicos têm para garantir a liberdade de expressão.

Nura Fares diz:

24/05/2007

A ditatura da informação é o que há de pior em qualquer país do mundo. Se quisermos um país desenvolvido e um povo esclarecido, devemos trabalhar para que o nosso povo leia mais e aprenda a raciocinar em cima das idéias, ao invés de ver novelas e desenhos norte americanos que só enriquecem aquela nação e a nós, nada acrescenta.
Parabéns pelo excelente artigo Emir Sader, homens de idéias é que fazem a diferença no mundo.

Luiz Alberto diz:

24/05/2007

Pelo jeito, há quem acredite que TV privada = imparcialidade; TV pública = golpe. Coitado de quem compra essa idéia das direitas de todo o mundo...

Roque S. de Souza diz:

24/05/2007

Eu,quero declarar que tenho aprendido muito com as suas análise sobre a Política Latina-Americana. Continue exercitando esse brilhante Trabalho, que muito ajuda os brasileiros como nós.

Clayton Mendonça Cunha Filho diz:

24/05/2007

RCTVas! Excelente medida de Chávez. Pena que no Brasil, a Globo até Ministro tem.

Richardy Bianchini diz:

24/05/2007

Acredito que a ditadura da informação é tão meléfica (ou até pior) que a ditadura política. Os grandes oligopólios que sempre dominaram esse "quarto poder" influenciam diretamente grande parte da população tranformando suas opiniões em dogmas.
Por outro lado, também devemos ter cuidado com redes meramente estatais, que se mal dirigidas podem conduzir ao mesmo problema.
Não podemos esquecer dos regimes totalitários que através da propaganda estatal impunhãm sua opinião por meios de comunicação estatais.
Nem o Estado nem os grandes empresários devem ter em mãos este poder, lembrando Monstequieu "o poder deve limitar o poder".
Bastante dificultoso é imaginar um controle democrático dos meios de informação, de forma a garantir a participação direta. Algumas formas já foram tentadas em Cuba, mas sem grandes resultados. Eis a grande questão como democratizar verdadeiramente os meios de informação, para torna-lo realmente imparcial?

Fábio Barbosa diz:

24/05/2007

Parabéns pelo lúcido artigo. A globo e as demais tvs no Brasil enojam qualquer cidadão que possa levantar o véu que encobre a realidade da AL.

Rodrigo Leme diz:

24/05/2007

A ditadura da mídia acabou na Venezuela. Longa vida à ditadura da máquina pública!!! Ao invés de desnhos animados, o pessoal lá vai ter q se contentar com 5 horas de conversa com o presidente em rede nacional. certamente, ele vai falar das coisas boas e ruins de seu governo. Pois afinal, para o Emir Sader, TV pública = imparcialidade; TV privada = golpe. Coitado de quem compra essa idéia das esquerdas sulamericanas...

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Publié dans THÉORIE - PRAXIS

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